Dentro de nós há um universo microscópico que pulsa vida. Trilhões de microrganismos, coletivamente conhecidos como microbioma, habitam nosso corpo, superando em número nossas próprias células. Este vasto ecossistema interno, longe de ser um mero passageiro, desempenha um papel crucial em nossa saúde física e mental. Pesquisas recentes revelam que nosso microbioma, especialmente o intestinal, influencia tudo, desde nossa digestão e imunidade até nosso humor e comportamento.
O fascinante "eixo intestino-cérebro" emerge como uma via de comunicação bidirecional, conectando nossa flora intestinal diretamente ao nosso sistema nervoso central. Esta descoberta revoluciona nossa compreensão da saúde mental, sugerindo que as bactérias em nosso intestino podem ser mais "inteligentes" e influentes do que jamais imaginamos. À medida que cientistas desvendam os segredos desta interação complexa, surge uma pergunta intrigante: poderíamos aprender a "conversar" com nosso microbioma para melhorar nossa saúde e bem-estar geral?
O Microbioma
Imagine seu intestino como uma cidade, habitada por uma diversidade incrível de bactérias. Estas não são meras passageiras; são cidadãs ativas, contribuindo significativamente para nossa saúde física e mental. Mas e se pudéssemos nos comunicar diretamente com elas? E se, através dessa comunicação, pudéssemos influenciar nossa saúde de maneiras que ainda estamos apenas começando a compreender?
Dr. Emeran Mayer, em seu livro "The Mind-Gut Connection", sugere que nosso microbioma é como um "segundo cérebro", capaz de influenciar nossas emoções e decisões [1]. Esta ideia não é mera especulação; estudos científicos têm demonstrado uma comunicação bidirecional complexa entre nosso cérebro e nosso intestino, mediada em grande parte por essas bactérias [2].
Como estudante da linha integrativa e holística, meu caminho me levou a explorar diversos documentários e textos sobre meditação e autocura. Essas fontes frequentemente mencionavam como, através da consciência e da intenção, podemos criar uma forma de comunicação interna, enviando sinais e mensagens para nosso próprio corpo. Essa ideia de sermos protagonistas de nossa própria mente, usando-a de forma consciente e direcionada, sempre me fascinou. Afinal, acredito profundamente que nosso corpo possui uma tecnologia verdadeiramente incrível.
Quando me deparei com artigos sobre o microbioma e as bactérias que habitam nosso corpo, foi como se duas peças de um quebra-cabeça se encaixassem em minha mente. Embora não possamos atribuir a essas bactérias uma consciência no sentido humano, sua notável capacidade de adaptação, comunicação e influência sobre nosso organismo me deixou maravilhada.
Refletindo sobre isso, não pude deixar de me perguntar: se essas bactérias são capazes de tal sofisticação, e se nossos pensamentos e intenções podem influenciar nosso corpo, não seria possível estabelecer uma forma de "diálogo" com esse ecossistema interno? A ideia de aprender a "conversar" com nosso microbioma, usando as técnicas de meditação e consciência que já conhecia, abriu para mim um novo mundo de possibilidades.
O Poder da Comunicação Mente-Corpo-Microbioma
A ideia de se comunicar com nosso corpo não é nova. Práticas milenares como a meditação e o yoga têm enfatizado a importância da conexão mente-corpo. Mas agora, com nossa compreensão crescente do microbioma, podemos expandir esse conceito para incluir nosso sistema.
Estudos têm demonstrado que práticas meditativas podem influenciar a composição do microbioma [6]. Isso sugere que, ao acalmar nossa mente e nos concentrarmos em nosso corpo, podemos estar criando um ambiente mais favorável para as bactérias.
Práticas para "Conversar" com Seu Microbioma :)
Você pode experimentar iniciar um "diálogo" com seu microbioma através da
Meditação Focada no Intestino: Dedique alguns minutos por dia para meditar, focando sua atenção no seu intestino. Visualize-o saudável e vibrante, agradecendo às bactérias por seu trabalho. Uma passagem do livro "Comer, Rezar, Amar" , onde ela descreve seu encontro com um guru que a ensina a "sorrir com a barriga". parece cômico no filme, mais reflito sobre isso e percebo sua profunda sabedoria :) Afinal, não é na nossa barriga que reside grande parte do nosso microbioma? Não é lá que ocorrem tantos processos cruciais para nossa saúde física e mental?
Alimentação Consciente: Ao comer, pense nos nutrientes que está fornecendo ao seu microbioma.
Respiração Abdominal: Pratique a respiração profunda, focando na área do abdômen. Isso não apenas acalma o sistema nervoso, mas também pode melhorar a função digestiva [7]. (aprenda a respiração abdominal)
Afirmações Positivas: Use afirmações como "Meu intestino está saudável e equilibrado" ou "Eu sou grata pela vida que há em mim".
Embora a ideia de "conversar" com nossas bactérias possa parecer esotérica, há uma base científica para isso. O conceito de "efeito placebo" demonstra claramente como nossas crenças e expectativas podem influenciar processos fisiológicos [8]. Além disso, a psiconeuroimunologia nos mostra como pensamentos e emoções podem afetar diretamente nosso sistema imunológico [9].
Dr. Candace Pert, em seu trabalho pioneiro, demonstrou que neuropeptídeos - os "mensageiros moleculares das emoções" - não estão restritos ao cérebro, mas são encontrados em todo o corpo, incluindo o intestino [10]. Isso sugere que nossas emoções e pensamentos podem ter um impacto direto em nosso ambiente intestinal.
Convido você a fazer uma pausa e refletir. Como você vê agora a relação com seu próprio corpo? Que tipo de "conversa" você tem mantido com ele, consciente ou inconscientemente? Talvez seja o momento de começar um novo diálogo.
Por tanto observe como você se sente ao reconhecer e honrar essa complexa teia de vida dentro de você. Com amor, Ana.
Referências:
[1] Mayer, E. (2016). The Mind-Gut Connection: How the Hidden Conversation Within Our Bodies Impacts Our Mood, Our Choices, and Our Overall Health. Harper Wave.
[2] Cryan, J. F., & Dinan, T. G. (2012). Mind-altering microorganisms: the impact of the gut microbiota on brain and behaviour. Nature Reviews Neuroscience, 13(10), 701-712.
[3] Bassler, B. L. (2002). Small talk: cell-to-cell communication in bacteria. Cell, 109(4), 421-424.
[4] Foster, J. A., & McVey Neufeld, K. A. (2013). Gut-brain axis: how the microbiome influences anxiety and depression. Trends in Neurosciences, 36(5), 305-312.
[5] David, L. A., et al. (2014). Diet rapidly and reproducibly alters the human gut microbiome. Nature, 505(7484), 559-563.
[6] Househam, A. M., et al. (2017). The effects of stress and meditation on the immune system, human microbiota, and epigenetics. Advances in Mind-Body Medicine, 31(4), 10-25.
[7] Hamasaki, H. (2020). Effects of Diaphragmatic Breathing on Health: A Narrative Review. Medicines, 7(10), 65.
[8] Kaptchuk, T. J., & Miller, F. G. (2015). Placebo Effects in Medicine. New England Journal of Medicine, 373(1), 8-9.
[9] Ader, R. (2007). Psychoneuroimmunology. Academic Press.
[10] Pert, C. B. (1997). Molecules of Emotion: Why You Feel the Way You Feel. Scribner.
Nota de Direitos Autorais
Este texto é de autoria de Ana C.M. Surya, professora de yoga e escritora do blog Surya Yoga www.projetosuryayoga.com. Você tem permissão para compartilhar este conteúdo, desde que mencione a autora e forneça um link direto para o site.
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