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Minha primeira experiência com a Ayauasca

Atualizado: 30 de jan. de 2023

Engraçado que a primeira vez que realmente me dei conta da Ayauasca foi em 2020 através de uma irmã que encontrei no instagram. Na verdade eu conhecia pelo nome de Santo Daime por ter alguns amigos de Brasilia que se consagravam na União do Vegetal. Na época eu realmente não tinha noção do que era essa medicina.


Foi na pandemia que fiz meus primeiros estudos sobre as plantas e seus efeitos. Fiquei ainda mais intrigada e curiosa. Comecei a desejar conhecer e participar de alguma cerimonia. Eu estava na busca de estar perto dos meus ancestrais e de mim mesma.


Comecei a pedir por uma cerimonia próxima do meu aniversario, que é no inicio do ano, pois queria uma data na qual eu pudesse sempre recordar, já que eu tinha muitas memórias ruins relacionada a essa data. Faltando uma semana, uma amiga me mandou um post com o convite para uma cerimônia no Sítio Pedra do Sábia a 18km da cidade de Itacaré (inclusive, esse sítio é um lugar que vale a pena pesquisar, pois ele oferece vivências e cerimônias ao longo do ano). Na hora eu soube que deveria participar.


Não sabia bem o que esperar, mesmo com relatos de amigos que já participaram de outras cerimônias. Mas eu estava confiante que não importasse o que iria acontecer, o que me fosse mostrado ou qual fosse a experiência, tudo serviria para o meu processo de autoconhecimento, então eu estava aberta para a Medicina.


Fiz todo o processo de limpeza, com uma alimentação especifica e evitando alguns hábitos principalmente no 3 últimos dias. Para você saber foi não ingerir alimentos industrializados, produtos de origem animal, álcool, refinados, estimulantes como o café, tabagismo, sal, alimentos ácidos e cítricos. Sim eu sigo essas orientações de forma rigorosa até por que eu também iria receber o Kambo.

A cerimônia foi conduzida pela família Arara Shawãdawa, uma tribo do acre que adoram cantar e tem uma história de resistência inspiradora. Aprendi muito na madrugada que passamos juntos.


A cêrimonia foi dividida em três partes, que foram se intensificando a cada dose da medicina. Na primeira fase, ficamos em silêncio se abrindo para o processo e criando nossas intenções, foi um momento de se conectar. Eu nessa hora entrei em meditação profunda, os sentidos do corpo adormecendo enquanto algumas imagens mentais iam surgindo. Eu via formatos de úteros, ovários e planetas.


Na segunda dose eu também tomei o rapé que intensificou muito toda a força da segunda dose da ayauasca. Senti meu corpo pesado, a força do cipó me puxando para terra. Também foi quando a limpeza começou, enjoos foram surgindo e para quem não sabe, vomitar também faz parte do processo. Eu queria me limpar tanto emocionalmente quanto fisicamente então essa parte não foi ruim, a cada momento de limpeza eu deixava toda energia desnecessária ir para fora, eu entregava tudo para terra.


Encontrei forças me levantar, dancei e me movimentei, a música era guiada pela família que tocava e cantava. Os rezos eram fortes, potentes, eu nem saberia como explicar o que produzia no meu corpo. Não era estranho, era como uma lembrança bem antiga.


No terceiro momento no qual decidi me aprofundar mais, bebi minha terceira dose e fui levada para uma viagem ao mais profunda da terra, ao meu intimo mais profundo. Era sufocante mas quando me entreguei ao amparo de uma anciã, emaranhada em suas raízes deitei em seu colo. Deixei todas as imagens e sensações fluirem livres para dentro e para fora de mim. Era empolgante e ao mesmo tempo assutador.


Me conectei com minha mãe, minha avó e minha filha. Por grande parte estive em um processo junto a elas, sentindo uma enorme porção de cura com a compreensão de que todas nós estamos ligadas nas mesma feridas e mágoas que se repetiam por várias gerações. Me abri para a cura, me entreguei para o amor incondicional da mãe terra.


Foi um momento tão lindo pois eu tinha amigas participando junto comigo, abria meus olhos e as via em seus processos. As lagrimas, as repirações a vontade era de abraçar todas. Eu estava muito feliz por não estar sozinha.


Queria dizer para vocês que não foi fácil, tive uma luta interna muito forte. Meus pensamentos se dividiam me causando uma enorme ansiedade. A noite ficou tão longa que eu chorava para o sol nascer, foi nessa noite que relembrei o quanto sou forte.


Também foi nessa noite que musicas, que até hoje eu canto em casa para a minha filha. Elas e tornaram parte da minha vida. Cantos para lua, para o mar, para Jurema e Iemanjá. Canto de caboclas e de mulheres medicinas. Foi um chamado para expandir minha relação com os outros seres sagrados e os espíritos da natureza.


A noite foi chegando ao fim quando vários vagalumes nos visitaram dentro da oca. Eu estava saindo da força da medicina, voltando aos poucos e me preparando para minha segunda aplicação do kambo.


O kambo foi uma experiência a parte, ao redor da fogueira ao amanhecer. Foi a aplicação mais forte que recebi, deixo para contar em um próximo post.


Finalizando a cerimônia, para iniciar meu novo ciclo recebi o colírio da floresta, a Sananga que seria minha terceira aplicação. Eu não sei por que, mesmo com toda dor que ela causa, eu amo o que acontece nos meus olhos e a clareza que ela me dá. Eu que tenho miopia e astigmatismo, com a medicina percebo os meus olhos ganhando vida. Assim como clareza para ver o campo mais sutil.


Foi uma noite muito intensa, eu testemunhei minha força, e que continuo com minha alma de guerreira, um chamado para eu não me encolher durante os desconfortos e desafios da minha jornada. Encarei minhas sombras, as piores delas que são meus pensamentos e a culpa que carrego das minhas antepassadas. Mesmo com todos esses anos de meditação, vi que meu caminho é longo, necessário ter muita disciplina e força de vontade.


Também foi nessa noite que me abri para experimentar a cura do meu sagrado feminino. Viver a cura da neta, filha e mãe que eu sou. Soube nessa noite que meu trabalho como professora de yoga seria integrar tudo o que aprendo no meu caminho de autoconhecimento. Também foi uma noite para conhecer novas pessoas, moradores da cidade, vizinhos e firmar laços com amigas queridas.


Me sinto muito grata e honrada pela noite com a família Shawãdawa, pela resistência de seu povo, de serem uma tribo medicina, que acolhe, que ensina, que passa o conhecimento ancestral.


Aho!

Com amor Ana.










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